quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Renúncia do cargo de Vice-Reitor da UFF

No dia 03 de novembro de 2010, em sessão conjunta dos três Conselhos Superiores da Universidade Federal Fluminense (Conselho Universitário, Conselho de Ensino e Pesquisa e Conselho de Curadores), reunidos para eleição do novo Vice-Reitor da Universidade e elaboração da lista tríplice a ser enviada ao Ministério da Educação, apresentei a minha renúncia a sete meses que me restavam de mandato (até 18 de junho de 2011), a fim de permitir a coincidência de mandatos entre Reitor e Vice-Reitor na UFF. Abaixo reproduzo na íntegra o discurso que proferi na ocasião e que consta no Processo enviado a Brasília para viabilizar a antecipação da posse do novo Vice-Reitor.

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Reunião Extraordinária Conjunta dos Conselhos Superiores para Elaboração da Lista Tríplice para Escolha de Vice-Reitor da UFF
Auditório da Escola de Engenharia – Rua Passo da Pátria, 156, São Domingos, Niterói-RJ
03 de novembro de 2010

Prezados Conselheiros, Sr. Presidente, Magnífico Reitor Prof. Roberto de Souza Salles,

O Brasil acaba de viver um momento riquíssimo e pedagógico quando a população em sua expressiva maioria optou pela continuação de um projeto de Governo que, conquanto tenha tido erros, colocou em curso uma forma de governar onde a agenda social recuperou seu protagonismo. A virulência do processo, com grande parte da imprensa se posicionando de forma parcial e com agressividade contra a candidata que veio a ser tornar a primeira Presidente mulher da história brasileira, só colocou em destaque a firmeza e sustentabilidade da jovem democracia brasileira.
Aqueles como eu que ao longo da vida abraçaram uma perspectiva política de esquerda, na melhor tradição da luta democrática por igualdade e liberdade, continuamos acreditando no acerto do caminho até aqui trilhado pelo Governo do Presidente Lula, mesmo que tenha havido pedras, espinhos e poeira. Preferimos que seja assim ao invés do caminho fácil da estrada asfaltada que, pasteurizando e homogeneizando os caminhos, nos levava em alta velocidade para uma terra de submissão, de vergonha e de exclusão.
É neste quadro complexo e desafiante e reconhecendo a absoluta prioridade das grandes questões nacionais, as quais nos têm exigido esforços, empenho e energia intelectual e prática, mas é também com a convicção de que grandes questões e compromissos não se sustentam sem coerência nas pequenas atitudes, ali, no nível onde podemos efetivamente operar, que venho, na condição de Vice-Reitor da Universidade Federal Fluminense, apresentar à Vossa Magnificência e aos Ilustríssimos Conselheiros presentes minha renúncia ao honroso cargo de Vice-Reitor a partir do dia do encerramento deste mandato atual de Vossa Magnificência que ocorrerá em 22 de novembro de 2010. Passo a comentar rapidamente as razões e motivações do meu pedido.
Dentre o folclore das explicações que encontrei para a defasagem de mandato entre o Reitor e o Vice-Reitor na nossa Universidade não encontrei nenhuma resposta razoável que justificasse a medida e que pudesse compensar, de alguma forma, o ganho real que, na minha modesta opinião, se alcançaria se Reitor e Vice formassem desde o início uma equipe coesa em torno de um projeto estratégico claro, reconhecido e legitimado pela comunidade acadêmica, que os elegeu como dirigentes máximos.
Não excluo a possibilidade de o meu diagnóstico ser influenciado por uma incorrigível incompetência política ou incapacidade no manejo da complexa e importante arte da negociação, tomado que sou às vezes por ímpetos que alguns amigos carinhosos minimizam com a alcunha, pra mim de qualquer forma, um católico fervoroso, honrosa, de messiânicos e que outros amigos, querendo ser mais técnicos, qualificam de wishfulthinking, a mania de tomar o desejo pela realidade e tomar decisões ou seguir raciocínios baseados no desejo mais do que nos fatos e dados.
Quando da minha posse como Vice-Reitor, em 18 de junho de 2007, eu dizia textualmente:
“Eu preferia ter tomado posse junto com o Reitor, há sete meses atrás, numa cerimônia cujo centro fosse o projeto político-institucional que denominamos “A UFF somos todos nós”, chamando a atenção para uma referência inclusivista que identificávamos como o principal desafio para o governo desta organização tão complexa, rica e plural que é a universidade. Uma cerimônia onde eu aparecesse apenas como um entre os vários fiadores deste projeto (o que de fato sou), o segundo, o vice na escala hierárquica cujo topo é o próprio reitor, meu estimado amigo Prof. Roberto Salles.
Não tendo podido ser assim por conta da defasagem de mandatos do Reitor e do Vice na nossa universidade, cuidei de manifestar por ocasião da minha eleição nos Conselhos Superiores, e reafirmo a mesma disposição agora, a intenção de encerrar o meu mandato no mesmo dia do encerramento do mandato do Prof. Roberto Salles, abdicando de sete meses de mandato em favor de permitir que nossos sucessores possam ter toda a liberdade para formar por inteiro as suas equipes e implementar desde o princípio o projeto que enunciarem e anunciarem para a comunidade acadêmica, sendo por ela referendado. Faço isso por amor a nossa Universidade Federal Fluminense.”
Pois é justamente isso que estou tratando de fazer neste momento. Faço-o com a sensação de dever cumprido. Podia ter sido melhor, não tenho dúvida. Se começasse tudo de novo faria muitas coisas diferentes. Seria mais comedido, conversaria mais antes de decidir, controlaria meu wishfulthinking, seria mais equilibrado nas disputas, sacrificaria menos meu trabalho de pesquisa, escreveria mais etc. Sobretudo, buscaria construir uma relação mais amiga e profissional com o Reitor.
Entretanto os resultados globais do trabalho e da minha experiência foram positivos. Conheci e convivi com muita gente dedicada à construção de uma universidade pública de qualidade. Estive a frente da Comissão Mista de Orçamento e Metas ao longo de todo o período. Agradeço ao trabalho e a dedicação de todos que direta ou indiretamente somaram esforços para manter operando aquela experiência de orçamento participativo que talvez seja das mais avançadas das universidades federais. Ali se pensou globalmente e agiu-se localmente. Ali se forjou o macroplanejamento do REUNI, com as exigências de autonomia e transparência as quais foram sinalizações deste próprio Conselho Universitário. Também ao Reitor Roberto Salles cabe um registro da sua atitude respeitosa com a Comissão Mista como espaço democrático de decisões estratégicas. Mesmo nos momentos de maior tensionamento, o que é natural em atividades estratégicas, ele respeitou e compareceu ao espaço da Comissão Mista.
Finalmente, não podia deixar de agradecer o convívio e as amizades que construí neste Conselho ao longo de todo o período. Aqui aprendi a conhecer e respeitar a nossa Universidade, enxergando o conflito e os paradoxos da gestão como pólos dialéticos que precisam ser sintetizados com respeito a todas as posições existentes. Foi um exercício de democracia que levo para o resto da minha vida. Despeço-me desejando a todos paz e bem para que possam continuar a construir a universidade que todos queremos e que o povo brasileiro merece.
Termino com São Paulo na Segunda Carta a Timóteo quando diz: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Desejo ao Magnífico Reitor Prof. Roberto Salles e ao amigo Sidney Mello, nosso próximo Vice-Reitor, muita luz, sabedoria e sorte para levar a frente essa desafiante e honrosa tarefa de dirigir a Universidade Federal Fluminense.
Que Deus os ilumine!
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EMMANUEL PAIVA DE ANDRADE
Matrícula SIAPE 0311735

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Legítimo desabafo, renovada esperança!

A página da UFF no dia 21 de maio de 2010 publicou em primeiríssima mão, tão logo encerrou a apuração da consulta à comunidade acadêmica: Roberto Salles é reeleito Reitor da Universidade Federal Fluminense.

Minha primeira vontade foi a de gritar como Baudelaire:

"Vagão, leva-me contigo! Navio, carrega-me daqui! Leva-me para longe, bem longe. Aqui a lama é feita das nossas lágrimas", Baudelaire

De fato gritei mesmo, usando a voz de Baudelaire, publicando meu grito no orkut, facebook e twitter! Mas se o grito foi um desabafo, meu espírito não se deteve aí. Concordo com as palavras de um professor do Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes, a quem tive a honra de conhecer durante campanha, herói da resistência numa luta quase solitária naquele Pólo, que dizia que "a despeito de todas as dificuldades encontradas nesse percurso, conseguimos nos fortalecer em busca de uma Universidade que desejamos e compreendemos mais democrática, mais compromissada, mais livre".

Foi uma luta difícil que, talvez por isso mesmo, ficará registrada nos anais das histórias de luta da UFF por uma autonomia que deve começar a partir de dentro. Mais do que nomes de pessoas, estava em jogo a necessidade e urgência de se construir e/ou aglutinar na universidade um campo democrático, crítico e com disposição para o desafio de gerir uma Universidade Pública da complexidade e do tamanho da UFF. Demos um passo muito importante.

Palharini e Bruno, os candidatos do campo democrático que apenas momentaneamente foram "derrotados", estão de parabéns, deram a sua cota de sacrifício e de empenho para a construção do campo. Todos os militantes (e que coisa boa a gente ainda poder falar de "militantes" e vê-los atuando, quando no campo adversário o que se via em grande parte eram pessoas contratadas para a campanha!!!) que se jogaram nessa luta heróica em tempos sombrios, como já dizia Hannah Arendt, estão igualmente de parabéns!

Por mais estranho que nos pareça, a Universidade reproduz, enquanto microcosmo, o macrocosmo da política brasileira, e quiça da política no mundo, onde a inexistência de projetos alternativos levou a uma hegemonia absoluta dos chamados valores de mercado e a um certo cinismo organizacional onde desaparecem a crítica e a estratégia para dar lugar a acomodação e a política de resultados, não importando o quanto estes sejam fragmentados, desconexos, precários e dissociados de um projeto institucional e/ou organizacional.

A boa notícia é que a Universidade no entanto não pode, sob pena de perder sua própria razão de ser, abrir mão da "crítica" e da "estratégia" como elementos estruturantes da sua trajetória. E a chapa Palharini e Bruno foi o esteio, a encarnação mesmo, do senso crítico e estratégico na nossa UFF que, dessa forma, mostra que a História não chegou ao fim. Tempos sombrios já foram superados em inúmeros momentos e continuarão a ser enquanto houver militantes da qualidade dos que se encontraram na campanha Palharini e Bruno.

Sinto-me feliz e recompensado por ter tido o privilégio de ter participado desse momento histórico na nossa Universidade ao lado de tanta gente valorosa!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Quem sabe faz a hora!

A Universidade Federal Fluminense vai eleger os seus novos Reitor e Vice-Reitor no próximo mês de maio de 2010, portanto daqui a um mês e meio. Essa parece ser uma eleição suis generis por algumas razões que passo a comentar.
Em primeiro lugar devem concorrer ao que tudo indica apenas duas candidaturas: a do atual Reitor (Roberto Salles) e a do Diretor do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (Francisco Palharini). Meu apoio explícito e engajado é pro Palharini, em oposição, portanto ao atual Reitor.
A universidade pública brasileira atravessa um momento riquíssimo de perspectivas positivas que, no entanto requer capacidade estratégica, comprometimento institucional, visão acadêmica e de gestão pública, compreensão dos desafios atuais da sociedade brasileira e suas inter-relações com a Universidade às quais vejo presentes apenas na candidatura do Palharini.
Vivemos apenas o início dessas perspectivas positivas quando o orçamento e a capacidade de investimento de todas as universidades públicas foram sensivelmente recuperados, a partir principalmente do segundo mandato do Presidente Lula. A nova capacidade de investimento disponibilizada a partir do REUNI (Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) colocou na UFF, por exemplo, recursos da ordem de R$ 142 milhões apenas para construção de prédios e laboratórios, autorizou concurso público para cerca de 500 novos docentes e 600 novos técnico-administrativos configurando uma expansão sem precedentes na história da universidade.
Tais investimentos, repita-se, generalizado por todas as universidades federais, constitui uma ação de governo em cumprimento a exigências do Plano Nacional de Educação que previa para o ano de 2010 a meta de 30% de jovens de 18 a 24 anos em universidades públicas. O projeto da UFF foi elaborado pelo conjunto das suas unidades acadêmicas (Faculdades, Institutos e Escolas) e se comprometeu com uma expansão de vagas discentes da ordem de 30%. Enfrentar e superar o desafio de expandir a universidade mantendo a qualidade do fazer acadêmico nas dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão transcende em muito a mera execução de obras civis que tem sido “apontada” pela candidatura da situação como a sua “marca” para pleitear a reeleição.
A candidatura Palharini conseguiu reunir em torno de si, talvez pela primeira vez na UFF e apesar de um contexto explícito de forte pressão fisiológica e clientelista, marca essa sim da gestão atual, a grande maioria dos quadros progressistas da universidade com visão acadêmica e estratégica. É a oportunidade que a UFF tem de fazer um acerto de contas com sua história, elevando o seu padrão de gestão institucional ao nível de qualidade e competência do seu corpo docente e técnico-administrativo, que têm garantido na ponta uma ação institucional progressista apesar dos dirigentes reacionários que se apossaram do poder na Universidade.