segunda-feira, 24 de maio de 2010

Legítimo desabafo, renovada esperança!

A página da UFF no dia 21 de maio de 2010 publicou em primeiríssima mão, tão logo encerrou a apuração da consulta à comunidade acadêmica: Roberto Salles é reeleito Reitor da Universidade Federal Fluminense.

Minha primeira vontade foi a de gritar como Baudelaire:

"Vagão, leva-me contigo! Navio, carrega-me daqui! Leva-me para longe, bem longe. Aqui a lama é feita das nossas lágrimas", Baudelaire

De fato gritei mesmo, usando a voz de Baudelaire, publicando meu grito no orkut, facebook e twitter! Mas se o grito foi um desabafo, meu espírito não se deteve aí. Concordo com as palavras de um professor do Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes, a quem tive a honra de conhecer durante campanha, herói da resistência numa luta quase solitária naquele Pólo, que dizia que "a despeito de todas as dificuldades encontradas nesse percurso, conseguimos nos fortalecer em busca de uma Universidade que desejamos e compreendemos mais democrática, mais compromissada, mais livre".

Foi uma luta difícil que, talvez por isso mesmo, ficará registrada nos anais das histórias de luta da UFF por uma autonomia que deve começar a partir de dentro. Mais do que nomes de pessoas, estava em jogo a necessidade e urgência de se construir e/ou aglutinar na universidade um campo democrático, crítico e com disposição para o desafio de gerir uma Universidade Pública da complexidade e do tamanho da UFF. Demos um passo muito importante.

Palharini e Bruno, os candidatos do campo democrático que apenas momentaneamente foram "derrotados", estão de parabéns, deram a sua cota de sacrifício e de empenho para a construção do campo. Todos os militantes (e que coisa boa a gente ainda poder falar de "militantes" e vê-los atuando, quando no campo adversário o que se via em grande parte eram pessoas contratadas para a campanha!!!) que se jogaram nessa luta heróica em tempos sombrios, como já dizia Hannah Arendt, estão igualmente de parabéns!

Por mais estranho que nos pareça, a Universidade reproduz, enquanto microcosmo, o macrocosmo da política brasileira, e quiça da política no mundo, onde a inexistência de projetos alternativos levou a uma hegemonia absoluta dos chamados valores de mercado e a um certo cinismo organizacional onde desaparecem a crítica e a estratégia para dar lugar a acomodação e a política de resultados, não importando o quanto estes sejam fragmentados, desconexos, precários e dissociados de um projeto institucional e/ou organizacional.

A boa notícia é que a Universidade no entanto não pode, sob pena de perder sua própria razão de ser, abrir mão da "crítica" e da "estratégia" como elementos estruturantes da sua trajetória. E a chapa Palharini e Bruno foi o esteio, a encarnação mesmo, do senso crítico e estratégico na nossa UFF que, dessa forma, mostra que a História não chegou ao fim. Tempos sombrios já foram superados em inúmeros momentos e continuarão a ser enquanto houver militantes da qualidade dos que se encontraram na campanha Palharini e Bruno.

Sinto-me feliz e recompensado por ter tido o privilégio de ter participado desse momento histórico na nossa Universidade ao lado de tanta gente valorosa!

Um comentário:

  1. Caro Emmanuel, faço minhas as suas palavras. Já tive oportunidade de usar a seguinte frase, mas ela se aplica perfeitamente à nossa situação: o seu texto não será o epílogo de um episódio particular na UFF, mas sim o prólogo de uma história muito maior. Quem viver verá.

    Heraldo

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