segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Crescer e democratizar: o desafio da universidade

Hoje pela manhã (24 de agosto de 2009) participei da cerimônia de assinatura do contrato de doação pelo Patrimônio da União de um terreno de 38 mil metros quadrados para a construção dos prédios para a expansão do Pólo UFF em Campos dos Goytacazes. A expansão da UFF em Campos projetará nossa universidade da atual situação de um único curso na cidade há quarenta anos (Serviço Social) para 7 cursos incluindo Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Geografia, Direito, História e Psicologia. É um salto significativo que requereu muito esforço, planejamento, trabalho, convencimento, negociação, articulação política etc.
Fiz este depoimento nos breves minutos em que me foi concedida a palavra, reconhecendo o trabalho de tantas pessoas que batalharam e construíram essa história, tão bem representadas na Comissão Mista de Orçamento e Metas pelo ex-Diretor da Unidade e agora Diretor do Pólo de Campos, José Luis e da atual Diretora da Unidade, Profa. Leda. A servidora Marly por exemplo, num depoimento emocionado, lembrou do sonho, da luta e do empenho de tantas pessoas para se chegar a este ponto, afirmando que era impossível alguém estar mais feliz do que ela naquele momento.
Lembrei das felizes convergências, em perspectiva histórica, entre os esforços e sonhos pessoais e institucionais com políticas nacionais, como é o caso do Plano Nacional de Educação (Lei no. 10.172 de 09 de janeiro de 2001), que fixa metas de expansão do ensino superior público até o final da década que atenda a pelo menos 30% dos jovens na faixa etária dos 18 aos 24 anos, exigindo que o setor público tenha uma participação nunca inferior a 40% do total. Lembrei também do REUNI (investimento público de R$ 2,4 bilhões), que veio atender parcialmente essa exigência do PNE e da feliz coincidência dele encontrar uma UFF já engajada há anos em um Plano de Desenvolvimento Institucional que tinha como eixo central “a expansão de vagas e a melhoria qualitativa dos cursos”.
Essas coisas têm que ser lembradas em perspectiva histórica para que não se caia na pequena história provinciana e míope, na esparrela de que tudo é questão de um gestor-despachante influente, na perda total de horizonte estratégico, levando a universidade pública a uma categoria rebaixada de “sucupira” tardia, caricata, sem debate público, sem transparência e sem democracia. Em tempos de crise na mais alta instância política do país, o Senado Federal, cujos elementos mais importantes passam por um ainda não devidamente dissecado modelo de gestão fundado no compadrio, na troca de favor e no poder coronelista de travar ou deixar andar processos e benefícios, que acaba por enredar tanta gente boa, é bom colocarmos a barba de molho. Se a universidade pública não pode ser a vanguarda da construção de um novo paradigma de gestão, que ao menos ela não seja também o atraso. Mais do que simplesmente possível, é absolutamente necessário que o crescimento seja acompanhado da democratização, da inclusão e da transparência.

3 comentários:

  1. Obrigado, Emmanuel. Me lembro do trecho do seu discurso em que falou que contribuimos para mudanças na compreensão de alguns colegas da UFF/Niterói, a respeito do que é a interiorização. Interiorização é descentralização; a descentralização é necessária no processo de urbanização (desmetropolização), de desenvolvimento econômico (despolarização), de desenvolvimento cultural (diversidade, multiculturalismo,democracia cultural) e de desenvolvimento político (democracia direta, protagonismo da periferia, etc.). Precisamos de um desenvolvimento multipolarizado, enraizado em culturas, práticas, heranças e potencialidades articuladas nas diversas escalas (até para fugir da falsa dicotomia localXglobal).
    Obrigado pela sua generosidade; sentimo-nos parte de uma grande vertente na UFF de obstinados e utópicos.
    José Luis

    ResponderExcluir
  2. É lamentável verificar de perto (muito mais do que gostaria estar) que a prioridade da universidade pública seja a política com "p" minúsculo, como diria meu querido ex-professor Ari, do departamento de Ciência Política desta instituição de ensino. Denominação esta que gera redundâncias e espantos quando nos deparamos com a reailidade da politicagem sobrepondo-se (e muito!) a qualidade acadêmica.
    omo ex-aluna vejo com olhos tristes a indecência dos dirigentes desta istituição, que muito bem foram comparados àqueles outros, do nosso repugnante Senado.
    Como educadora pergunto-me que importância tem o ICG ou o resultado do ENADE para esses mesmos dirigentes que pouco se importam com a formação profissional e cidadã que deveriam estar desenvolvendo ao invés de maracutais e cala-bocas com CD.
    Como ex-funcionária (sim! desvinculei-me da casa por não suportar a sodidez política) continuo a observar muito de perto que o coronelismo e a centralização não fazem parte apenas dos pólos do interior, por questões históricas da formação dos mesmos, bem como das cidades que os acolheram.
    Falando especificamente de Volta Redonda, cunhei a EEIMVR (hoje PUVR, como um todo) de Sucupira Fluminense, logo que aqui cheguei. Hoje entendo não apenas este pedaço da UFF como uma criação de Dias Gomes, mas toda a instituição. Seus Odoricos estão espalhados e espelhados na macropolítica partidária brasileira. Com sua oligariquias usufruem do poder coronelesco para cumprirem a única missão que talvez lhes caiba: poder único e absoluto.
    Lamento ser pessimista, mas não creio que a eleição do ano que vem, memso que a máquina mude de mão, transforme muita coisa. Na reitoria, no PUVR, em qualquer outra instância.
    Como bem sabemos, cultura é coisa difícil e demorada de ser modificada. Leva muito tempo.
    Logo, isso é umaempreitada para aqueles que tem estômago de sobra para tal intento (eu não tive).
    Assim, espero sem otimismo algum que um dia a política se transforme em Política, sabendo que "é preciso ter estômago, pois apolítica universitária talvez mais suja do que a política partidária" (citando um dos grandes coronéis que conheci por essas bandas.

    Abraços Emmanuel. E parabéns por esse espaço.

    Aline Moraes

    ResponderExcluir
  3. desculpem os erros de digitação. Meu teclado está em péssimas condições (coisas do serviço público federal também)

    ResponderExcluir