sexta-feira, 31 de julho de 2009

Aos amigos peruanos

No último dia 26/07/09, domingo, o casal Marcia e Rodolfo Espinoza, ele de nacionalidade peruana e morador no Brasil, onde constituiu familia, há mais de 30 anos, receberam em sua casa amigos para comemorarem com um almoço típico a festa da independência do Peru, proclamada em 28 de julho de 1821. A hospitalidade de Rodolfo e Marcia de fato transcende a questão da celebração da independência do Peru, visto que eles recebem rotineiramente amigos em sua casa para celebrações as mais variadas.
Mas é notável de qualquer forma a preservação do sentido de pertença, de nacionalidade da comunidade peruana no Brasil que convive harmoniosamente com o seu espírito de festa, de celebração e também de integração na comunidade local. Na UFF eu conheço inúmeros docentes e técnico-administrativos peruanos, incluindo dois professores do meu departamento de origem (Departamento de Engenharia de Produção), o Prof. Luis Torres (segundo da direita para a esquerda na foto) e o Prof. Ruben Gutierrez. Na foto também, cujo detalhe em vermelho e branco quer lembrar a bandeira peruana, os professores Sonia e seu marido Marcos, ambos do Instituto de Matemática da UFF.
Como disse José de San Martin ao proclamar a independência do Peru, "Vida longa à pátria! Vida longa à liberdade! Vida longa à independência!". Vida longa à Marcia, Rodolfo e aos filhos, meus primos queridos, Rodolfo, Rafael e Lilian e todos os seus convidados.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Quem tem medo de Virginia Wolf?

Sai da última reunião do Conselho Universitário da UFF (29/07/09) com um filme na minha cabeça: ‘quem tem medo de Virginia Wolf?’ Este foi o nome de um clássico norte-americano que deu o Oscar a Elizabeth Taylor em 1966 e que trata de relações complicadas entre dois casais, intelectuais e professores universitários, sendo uma das mulheres a filha do reitor da universidade.
Em que pese as circunstâncias e problemáticas não serem estranhas aos nossos ambientes acadêmicos, minha indagação tinha razões menos pessoais e intimistas e mais metafórica porque eu me perguntava por que algumas pessoas têm tanto medo de levar a cabo a decisão já tomada pelo Conselho de realizar um plebiscito na universidade sobre os cursos pagos.
Medos e preocupações contudo são legítimos e fazem parte da nossa constituição humana... compreendo isso. O que não dá pra compreender e nem aceitar é a insistência subliminar em querer descumprir por meio da “enrolação” e procrastinação uma decisão já tomada pelo Conselho. Afinal será que ouvir a comunidade acadêmica é um lobo(Wolf)mau pra esse pessoal? Se for isso eu fico pensando como deve ser difícil dirigir uma instituição cuja voz se tem tanto medo de ouvir!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Tecnopolítica, Planejamento e Universidade

A Superintendência de Arquitetura, Engenharia e Patrimônio da UFF (SAEP) realizou um seminário interno no dia 28 de julho de 2009 no Auditório do Instituto de Geociências, para debater a sua ação no âmbito do programa de expansão e reestruturação da universidade bem como discutir formas e mecanismos de relacionamento com a recém-contratada empresa que deverá prover assessoria na fiscalização de obras e serviços de engenharia na Universidade.
A SAEP é um bom exemplo de um órgão operacional da UFF que está tendo coragem de se reestruturar e enfrentar o desafio que lhe foi proposto a partir de um programa de expansão sem precedentes na história da universidade. Se os longos anos de vacas magras que atravessou a universidade pública brasileira comprometeram seriamente as políticas acadêmicas, foi nos órgãos operacionais que o comprometimento atingiu sua intensidade mais perversa. Dentre estes se destaca o órgão técnico de engenharia e arquitetura, as chamadas prefeituras dos campi.
Com orçamentos que mal cobriam seu custeio, as universidades não construíam um metro quadrado de obra desde a última expansão do Acordo MEC/BID nos anos 80 e, portanto seus órgãos de engenharia não praticavam nem engenharia, nem gestão de engenharia. Se aliarmos a isso a falta de concursos, a falta de capacitação e os níveis salariais precaríssimos, podemos imaginar o estrago que os adoradores neo-liberais do “estado mínimo” produziram também aqui, na universidade pública brasileira.
Pois bem, apesar disso a nossa SAEP aceitou o desafio! E o seminário interno refletia claramente sua disposição de superar as dificuldades. Na programação, além de convidarem representante da Universidade Federal do ABC (UFBAC), que vive experiência recente de construção de aproximadamente 100 mil metros quadrados, partindo praticamente do nada por se tratar de uma universidade nova, me convidaram também, na condição de presidente da Comissão Mista de Orçamento e Metas, para falar sobre a articulação entre o plano de expansão e reestruturação e o plano de desenvolvimento institucional (PDI) da universidade.
O PDI da UFF, apesar dos seus poucos anos de vida (sua primeira versão cobria o período 2003-2007 e a segunda cobre o período 2008-2012), é uma experiência bem sucedida de planejamento institucional da universidade. Diríamos mesmo que a sua existência não apenas cria condições para consolidação de um caldo de cultura pró-planejamento na instituição, mas o faz de forma participativa, transparente e democrática através da Comissão Mista de Orçamento e Metas.
A elaboração da versão 2008-2012 iniciou-se com audiências públicas realizadas em 2007 em todos os campi da universidade, tanto em Niterói quanto no interior. As demandas da comunidade foram sistematizadas no documento final que foi aprovado em sessão extraordinária do Conselho Universitário de 06 de maio de 2009. Esta versão, que está publicada na íntegra no site do PDI (www.pdi.uff.br), resgata os princípios e as diretrizes fundamentais do documento anterior, preserva o seu eixo central, que era “expansão de vagas e melhoria qualitativa dos cursos” e incorpora o plano de reestruturação e expansão aprovado anteriormente pela universidade.
Apesar disso, a perspectiva de construção de planejamento participativo na UFF não está isenta de riscos. Para Carlos Matus, ex-ministro do planejamento de Salvador Allende no Chile, e criador da metodologia do planejamento estratégico situacional que inspirou a criação da Comissão Mista como uma “sala de situações”, o planejamento “é o cálculo que precede e preside a ação”. O vínculo entre o cálculo que precede e o cálculo que preside é a informação correta e transparente. Se esta não existe, a resultante é um planejamento formal que apenas serve para atender às exigências burocráticas mas que não é capaz de transformar a instituição.
Este é o primeiro grande desafio para o planejamento participativo na UFF: a falta de transparência. Apenas a título de exemplo, podemos citar a publicação no Diário Oficial no. 137 de 21 de julho de 2009, na Seção 3, de um extrato de dispensa de licitação transferindo para a Fundação Euclides da Cunha o valor de R$ 755.118,00 para fins de “apoio e gerenciamento do Projeto Desenvolvimento das Ações Estratégicas e Operacionais Execução do Plano de Expansão e Reestruturação – PDI” que no entanto não é do conhecimento da Comissão Mista, responsável tanto pelo PDI quanto pelo Plano de Expansão e Reestruturação.
Outro risco que pode ameaçar o planejamento participativo da universidade diz respeito às imbricações tecnopolíticas. Órgãos de engenharia e arquitetura, pela sua importância na intervenção e execução concreta dos investimentos públicos, sempre foram objeto de assédio de governantes, gestores e políticos pouco afetos à democracia como método de alocação ótima de recursos. É a chamada “lógica da execução”, uma forcinha aqui outra ali, de modo que ande melhor e mais rápido as obras dos aliados. Ocorre que esta prática acaba com a confiança institucional no planejamento, denigre o esforço profissional do órgão técnico e predispõe a comunidade para a descrença na eficiência da gestão pública. Sua constatação é difícil e o antídoto é o apoio institucional transparente a estes órgãos técnicos na proteção e preservação da sua integridade tecnopolítica.
É por essa razão que o seminário realizado pela SAEP deve ser merecedor dos aplausos, da atenção e do acompanhamento de todos os que acreditam que é possível e absolutamente necessário que a universidade pública seja transparente, democrática e eficiente e que técnica, cultura e política não são separadas, influenciando-se e determinando-se umas às outras.

sábado, 25 de julho de 2009

Ciência e Gestão na Universidade Brasileira

O escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler, que notabilizou-se com a publicação da trilogia “Choque de Futuro” (1970), “A terceira onda” (1980) e “Powershift: as mudanças do poder” (1990), afirmou em uma de suas análises sobre a chamada sociedade do conhecimento que então começava a se configurar, que a característica cognitiva mais importante a ser desenvolvida neste contexto seria a de saber aprender, saber desaprender e saber reaprender.
Essa citação foi utilizada por Sílvio Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco, um dos fundadores e atualmente cientista-chefe do CESAR/UFPE (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), para falar da sua experiência como um cientista em busca de um modo de fazer sua ciência e torná-la relevante e útil a partir da condição de professor universitário em Recife, fora do eixo Rio-São Paulo, tendo que interagir com inúmeros e heterogêneos atores que vão desde seus colegas universitários até empresários, passando por políticos e dirigentes de órgãos públicos.
Silvio Meira participava do VII Seminário Nacional do REUNI (Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), ocorrido em Brasília entre os dias 22 e 24 de julho de 2009 e que tinha por tema “A universidade e suas relações com o meio externo”. A intenção do Ministério da Educação, conforme expresso pela Secretária de Educação Superior Maria Paula Dallari Bucci, era a de trazer luz sobre a complexa relação da universidade com o meio externo particularmente naquelas áreas mais problemáticas dessa relação que envolvem financiamento externo e privado, a fim de se desenvolver e propor termos para a regulamentação da autonomia universitária, pedra de toque do esforço da Secretária para responder às exigências do Acórdão 2731 do TCU.
A citação de Toffler parece oportuna para lidar com situações de transição, onde o “já era” e o “ainda não” não estão nitidamente separados, onde a regra do jogo é desconhecida ou não dominada pelos jogadores ou, pior ainda, a regra muda a cada jogo e onde a coragem para correr riscos é a condição para construir algo que se intui importante mas não se sabe como nem com que parceiros. Essa parece ser a condição dos cientistas empreendedores nas universidades públicas na virada dos anos 80 no Brasil.
Gibbons et all ainda não tinham escrito o seu “The new production of knowledge: the dynamics of science and research in contemporary societies” (1994) e portanto ainda não tínhamos o conceito do Modo 2 da produção do conhecimento, aproveitando a categoria de modo de produção dos historiadores e cientistas sociais, pra definir a forma como o conhecimento vinha sendo produzido, no contexto da aplicação, focado no problema e desenvolvido por equipes interdisciplinares, em contraposição ao Modo 1 de produção, acadêmico, baseado em disciplina e conduzido pelo pesquisador. A Lei de Inovação ainda nem tinha começado a ser pensada.
O novo modo de produzir conhecimento não é uma questão de opção do cientista mas o desdobramento de uma economia que se globalizava e complexificava e os problemas não são mais linearmente eliciados a partir das disciplinas. Bruno Latour, no seu “Jamais Fomos Modernos”, lança a pergunta “quem vai resolver o problema do buraco na camada de ozônio?” numa referência a que os departamentos universitários, nascidos da perspectiva analítica da ciência moderna, não eram mais suficientes para enquadrar os imensos e multidisciplinares desafios colocados pelo mundo real.
Essa é a origem do imbróglio que o sistema de educação superior no Brasil vive hoje, desde que por falhas reconhecidas porém menores de um dos mecanismos criados pelo precário marco regulatório do sistema nacional de ciência e tecnologia, a saber as fundações de apoio às universidades, estas foram, equivocadamente, colocadas na mira dos órgãos de controle externo como instrumentos não compatíveis com o jogo republicano e democrático.
Tudo indica e esperamos que seja apenas uma crise de crescimento. Apenas um momento em que, por conta da retomada da capacidade de investimento do sistema de educação superior no Brasil, o sistema universitário se reaparelha, reconstrói (ou constrói pela primeira vez em muitos casos) a sua capacidade de fazer ensino, pesquisa e extensão de forma eficiente, planejada e sintonizada com as demandas da sociedade brasileira.
Há problemas sem dúvida e que devem ser enfrentados. É preciso aperfeiçoar e consolidar o ainda tão recente marco regulatório inaugurado com a Lei da Inovação, sancionada somente em dezembro de 2004. É necessário que a governança do sistema seja compatível com a complexidade do fazer acadêmico e isso não se faz sem a coragem de se tratar de forma articulada as imbricações entre gestão e poder. É necessário que o ethos acadêmico da excelência e da avaliação sistemática transborde também para os aspectos da gestão universitária. É necessário criar mecanismos permanentes de capacitação de pessoal técnico, a semelhança do que já foi feito no tocante a capacitação docente, priorizando-o no interior das universidades.
Fundamentalmente, e acho que este é o desafio do VII Seminário do REUNI, é preciso combinar a necessidade de regular com a delicadeza de não engessar e pasteurizar as iniciativas inovadoras que surgem a cada dia nas universidades. É preciso ter a flexibilidade para que possam surgir permanentemente no universo do sistema dispositivos como o CESAR/UFPE (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) mas também dispositivos como a COPPE/UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ). É preciso incentivar permanentemente os cientistas empreendedores individuais no interior da universidade mas ao mesmo tempo apropriar-se enquanto instituição que aprende, de capacidade empreendedora institucional viabilizando a universidade empreendedora.
Retomando a citação de Toffler que iniciava este artigo, é preciso aprender a operar em um novo paradigma da produção do conhecimento e em um novo marco regulatório. Mas é preciso também desaprender a utilizar os dispositivos como a fundação de apoio para fins diferenciados daqueles para os quais eles foram criados. E é preciso, finalmente, reaprender a operar o conjunto do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação de forma integrada e com vistas a tornar a ciência brasileira apta a cumprir a missão que lhe é atribuída pelo Galileu de Bertold Brecht que sustenta que “a única finalidade da ciência é aliviar a canseira da existência humana”.